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O Brasil está em quarto lugar entre os países com maior número de crianças e adolescentes com diabetes tipo 1, segundo a 11ª edição do Atlas do Diabetes, publicado pela Federação Internacional do Diabetes em 2025. A doença foi tema da Audiência Pública “Diabetes Tipo 1 – Araraquara na luta por direitos”, realizada no Plenário da Câmara, na noite de segunda-feira (21).
O evento foi proposto pelas vereadoras Fabi Virgílio, Maria Paula e Filipa Brunelli (todas do PT) e pelos vereadores Guilherme Bianco (PCdoB), Alcindo Sabino (PT) e Cristiano Silva (PL), por meio do Requerimento nº 1019/2025. Compuseram a mesa a vereadora Fabi Virgílio, o secretário municipal da educação, Fernando Diana, a deputada estadual Thainara Faria (PT) e Maria Julia Brunelli, representando o grupo de “mães pâncreas”.
O diabetes tipo 1 é uma doença crônica autoimune. “Em resumo, de forma simples, o corpo produz anticorpos que, em vez de defender o corpo contra infecções, entendem que o pâncreas é estranho”, explicou o endocrinologista Thiago Hirose sobre a dinâmica da doença. Os anticorpos atacam, então, as células beta do pâncreas, fazendo com que o órgão deixe de produzir insulina, hormônio responsável por controlar a glicose no sangue, complementou o médico.
A endocrinologista pediátrica Andreza Gilio atende casos de diabetes tipo 1 há cerca de 14 anos. “Para a família, é como se estivesse sofrendo um luto, quando recebe esse diagnóstico. E, ao mesmo tempo, ela tem que dar conta de cuidar, de ser o órgão de uma pessoa. A pessoa perde a função do pâncreas e a família tem que assumir essa função de órgão”, contou a médica.
Para a profissional, a sociedade, as escolas e o sistema de saúde não estão preparados para lidar com a doença. “Várias crianças passam por pronto atendimento e ninguém percebe que essa criança está com sintomas de diabetes. Eu tenho muitas crianças que quase vieram a óbito por falta de preparo até dos próprios médicos”, comentou.
O tratamento da doença é feito por meio da aplicação de insulina e do monitoramento da glicose, explicou Hirose. No entanto, de acordo com Andreza Gilio, a abordagem do sistema público precisa ser otimizada. “Já tem evidências científicas de que o sensor de glicemia é muito mais eficaz, as insulinas novas são muito melhores e as complicações são muito menores”, disse.
Sem a assistência necessária, as complicações do diabetes tipo 1 evoluem, muitas vezes, de forma silenciosa. Doenças cardiovasculares, oculares e renais, além do “pé diabético”, estão entre as possíveis consequências da doença, explicou a endocrinologista. “Quanto mais você monitora e cuida, mais você mantém essa glicemia próxima do normal e mais você vai ter uma longevidade de saúde e uma vida plena”, completou.
As experiências de quem convive com a doença
“Quando veio o diagnóstico, era como se um caminhão tivesse passado por cima da minha alma. A glicemia dela estava tão alta que os médicos disseram que ela poderia não resistir”, contou Maria Julia Brunelli sobre o diagnóstico de sua filha Bianca.
Mães de crianças diagnosticadas com diabetes tipo 1 participaram do debate, apresentando experiências, reivindicações e sugestões de melhorias. Uma das principais demandas abordadas foi a necessidade de educar profissionais do sistema de saúde, da educação e demais setores sobre as especificidades da doença.
“Muitos médicos endocrinologistas não estão preparados para lidar com diabetes, principalmente o diabetes tipo 1, porque a tecnologia avançou. Há 35 anos, o controle era muito diferente do que é hoje. Só que a tecnologia chegou e eles não foram atualizados”, opinou a enfermeira Lucia Ortiz, que já foi gestora da Fungota e é tia de uma pessoa que tem a condição.
Outro ponto levantado foi a dificuldade de acesso a insumos necessários para o monitoramento e tratamento da doença, como sensores digitais de glicose e bombas de insulina, que têm alto custo e não são distribuídos pelo sistema público de saúde de Araraquara.
“Eu, infelizmente, não trabalho, porque a escola não se responsabiliza e sequer olha o celular para ver como está a glicemia do Artur. Aí eu tenho que ficar à disposição e não consigo trabalhar”, contou Fabíola Fernandes, que é mãe de uma criança de cinco anos diagnosticada com a doença. “Quem tem condições, tem [os insumos], quem não tem condições, hoje, muitas vezes, fica à mercê”, complementou.
Karol Toledo tem diabetes tipo 1 há 35 anos. A ativista pelos direitos da pessoa com diabetes convive com complicações como limitações no movimento, neuropatia diabética, falta de sensibilidade e dores, além de ter feito mais de 16 microcirurgias nos olhos para preservar a visão. Ela explicou que usa uma bomba de insulina há dois anos, mas teve dificuldades com a escassez de insumos fornecidos pelo sistema público de saúde. “Se eu tivesse que tomar dez injeções por dia, eu tinha que repetir a mesma agulha dez vezes”, afirmou.
Karol contou que viveu por muitos anos sem conhecimento aprofundado sobre a doença e destacou a necessidade de profissionais de saúde preparados para lidar com a condição. “Nós precisamos ter no posto de saúde um nutricionista especializado em diabetes tipo 1, um educador em diabetes e um endócrino especialista em diabetes tipo 1, porque é mais fácil cuidar de um diabetes tipo 2 e de uma obesidade do que um tipo 1. Precisamos de psicólogos, não só para os pacientes, mas para as mães, pais e para a família”, opinou.
Demais autoridades
Também estiveram presentes as vereadoras Maria Paula e Filipa Brunelli e os vereadores Alcindo Sabino, Cristiano Silva, Guilherme Bianco (PCdoB), Marcão da Saúde e Aluisio Boi (ambos do MDB). Compareceu, ainda, a diretora de desenvolvimento e qualificação para o SUS - DRS III Araraquara, Diana Branquinho.
Os vereadores falaram sobre a importância de ouvir a comunidade na construção de políticas públicas e destacaram que o diabetes tipo 1, além de uma demanda de saúde, é também um tema de transversal que envolve questões sociais.
A deputada estadual Thainara Faria comentou a urgência em mobilizar setores públicos por políticas de apoio a pessoas que lidam com a doença. “Minha vinda é, de fato, para que a gente, ao final dessa audiência, tenha na ata a possibilidade de pensar, desde já, uma lei estadual para a gente ter uma abrangência maior. A gente briga aqui em Araraquara, briga em Ribeirão, mas o nosso papel é brigar estadualmente para depois poder levar a nível federal”, disse.
Para rever
A Audiência Pública foi transmitida ao vivo pela TV Câmara, no canal 17 da Claro, e pode ser assistido na íntegra na página do Facebook e no canal do YouTube da Câmara.
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